Sementes carbonizadas de palmeira em sítios arqueológicos guarani do extremo sul catarinense: uma análise morfológica, taxonômica e etnográfica

Abstract

O conhecimento botânico e ecológico foi um dos fundamentos do sucesso do amplo domínio geográfico Guarani, baseado na prática da policultura agroflorestal e do manejo de plantas dentro do tekohá. Desta forma, é comum encontrar vestígios vegetais em sítios arqueológicos destes ceramistas. Resistentes por sua morfologia do fruto os coquinhos de palmeira, são um dos macro-restos recorrentes. A família Arecaceae possuíam grande simbolismo na cosmologia e no cotidiano deste grupo há menções de manejo para usos diversos, tanto para alimentação, quanto cultura material. Nos sítios arqueológicos Guarani: Campo Mãe Luzia, SC-ARA-008 e Mirante da Lagoa SC-ARA-002, localizados na área do projeto de pesquisa Arqueologia Entre Rios: do Urussanga ao Mampituba, foram encontradas 102 restos de sementes carbonizadas de palmeira. Através da coleção de referência e literaturas especializadas, foram identificadas as espécies Syagrus romanzoffiana (Cham.), chamado de pindo pelos Guarani e Geonoma gamiova Barb. Através do tipo de fragmento: Transversal apical, Transversal distal, Longitudinal ventral dorsal e Transversal medial, foi estabelecido número mínimo de indivíduos (MNI). No sítio arqueológico SC-ARA-002, no mínimo foram resgatados 11 endocarpos carbonizados sementes de S. romanzoffiana, já no SC-ARA-008, 18 endocarpos. No cotidiano o pindo era utilizado na totalidade, das raízes as folhas. Personagem de diversos mitos na cosmovisão Guarani. Já a pindo ro ou pindo'i, é citada como cobertura de estruturas utilizando suas folhas. Os carposrrestos são um ponto de partida para compreensão da relação entre o povo Guarani e a comunidade vegetal no passado. A ocorrência destas espécies corrobora para a hipótese do papel importante das palmeiras na problemática da ocupação e manejo agroflorestal Guarani.